sábado, 29 de setembro de 2012

a vida que criamos é teatro.

de que importa o que os homens pensam se o mundo é muito maior que eles? que importância têm seus feitos na história da vida se há muito mais a se buscar que eles no lugar que chamamos de Terra? é simples. sem eles, a vida como a conhecemos seria tão diferente que estranharíamos, assistindo de fora, e nos entediaríamos, e dormiríamos como expectadores da cena. o dinamismo ocorre quando o homem chega e seus sentimentos são traduzidos assim: eu quero falar, quero pensar, quero viver e dar um propósito à arte de viver. não vou sentar e babar mas sim fazer com que valha a pena, ainda que no meio do caos, ser gente e ser vida.
a vida é muito maior que o homem e a realidade o excede e ultrapassa constantemente por ele ser tão menor e tão dispensável na história desse mundo? sim. 
mas seria o mundo tão fluido, tão cheio de movimento, cor e ação, ainda que essa cor seja o vermelho do sangue e a ação tenha levado esse sangue a escorrer, apenas por maldade e não obstante por método de sobrevivência? não. o mundo seria tão somente vazio, neutro, normal, a vida seria uma vida dormida. o homem chega e muda, e nem sempre, na verdade, quase nunca seus feitos são benéficos, mas, parafraseando Belle and Sebastian, o homem colore a vida com o caos do problema.
o conflito é necessário para a mudança e a mudança é necessária para que se perca o medo da mesma e se adquira o medo do marasmo que nos controlaria se não fôssemos tão teimosos a ponto de chegarmos e mudarmos cada coisinha que vemos e queremos tirar do lugar. e na maioria das vezes, essa coisinha que queremos tirar do lugar, é a vida em si.
o homem vem, fica entediado, mexe com toda a vida que há no planeta, porque ele é um ser inquieto e insatisfeito, sujeito à bagunça. ele faz confusão com todo o ecossistema alheio em busca do seu ecossistema interior na chamada viagem iniciática. a viagem não somente ir daqui até ali, mas ir daqui até e li e descobrir que é um lugar diferente e que ele muda de acordo com o lugar que se encontra. ele se descobre enquanto se locomove. ele não nasceu pra ficar parado. ele nasceu pra ser o ser egoísta que destrói a calmaria e a harmonia do céu na Terra pra provar um pouco do movimento. provar um pouco da discórdia. e fazer da própria vida uma jornada de auto-conhecimento e um modo de se testar a todo momento. somos inteiramente desafiados pela vida que criamos ao longo de toda a nossa existência, a vida que nos espera fora de casa, casa que não existiria se o homem não tivesse vontade e necessidade de se abrigar pra fugir de tudo que ele não quer ver ou sentir. portanto (não vá se confundir), ele não vive na casa. ele vive em sua mente perturbada, seu corpo elétrico e inconstante. ele só dorme na casa.
toda essa ideia de apartamentos e comércio e indústrias e sociedade e certo e errado, leis e crimes, prisões e falsas liberdades, tudo criado num teatrinho da vida não com a função de interpretar/ser outra pessoa. mas de encontrar a si mesmo enquanto o faz.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

abrigos.

eu gosto de tirar foto das pessoas depois que elas acordam. claro, maquiagem é bonito, mas esconde quem você é de verdade. ao despertar, você se encontra cara-a-cara com a realidade novamente, após passar horas na sua própria companhia e da sua imaginação: não há outra hora em que você seja tanto você. o seu sorriso não vai ser forçado, sua cara de preguiça vai dizer tudo. uma foto depois de acordar, com o cabelo bagunçado e os olhos um pouco apertados, dizendo quem você é. não a fantasia que você bota pra se apresentar ao mundo. acho que por isso a história de sair por aí de pijama. é como dizer "esse sou eu quando eu tô confortável. quando eu tô em casa. quando eu me sinto bem. quando eu sou eu, sem máscaras, sem mentiras, sem abrigos pro verdadeiro ser."

deixar tudo mais simples, um pouco mais... casa.

eu quero amar pela felicidade que amar traz, eu quero ser livre de obssessões e de saudades apertadas. eu quero amar meu ser e todo esse mundo, todo esse ar e todas as árvores. tudo que é vida. e lá mais pra longe, todas as estrelas, galáxias, cores, luzes, toda a beleza que tem em existir. em estar aqui. em poder presenciar, olhar, ouvir, sentir o cheiro e o gosto, tocar com as mãos, o que a gente chama de vida. o mundo é a sua casa, o universo é a sua casa. você habita um espaço que é seu. todo o ar que entra em seus pulmões e tudo que seus pés e mãos tocam. tudo que é bonito, mas tudo é bonito. então, tudo que é. toda a experiência. toda a voz, todo o canto, toda a expressão. eu amo viver. eu amo amar. coisas pequenas como formigas, enormes como galáxias, toda a vida que existe. e de poder fechar os olhos, e não precisar mais de corpo. flutuar pelo universo e me sentir viva. parte da experiência. longe de toda a chatiação desnecessária pela qual passamos todos os dias. longe de toda a raiva, cada vez mais forte. amar. eu não tenho medo de voar, de ser nuvem, de ser gente, de ter um coração. amar é perdoar, amar é se permitir amar e se sentir bem com pequenas atitudes. eu não tenho medo de respirar ou de parar de fazê-lo. não mais. o universo é a minha casa e o universo sou eu. eu sou tudo que há e tudo que ainda será. o universo habita em mim, como eu sou minha casa e a minha casa é ele também.

e eu assim como você senti todas as dores de passar de mim pra uma forma humana. contrair-se e expremer-se desesperadamente dentro de um pulmão. a dor que a gente sente quando nasce é a dor da nossa grandeza quando ficamos pequenos demais pra suportar o que a nossa alma tem a carregar. abrigar.